Apareceu a Margarida
Texto de Roberto Athayde, um clássico do teatro contemporâneo brasileiro, discute relações de poder por meio do jogo cênico estabelecido pela personagem-título e a plateia
Silêncio! A professora acaba de entrar na sala de aula com seu tom de voz firme e cheia de certezas sobre matemática, biologia e até assuntos que fugiriam da grade curricular. Os alunos são os espectadores, convidados a entender o que há por trás da série de impressões sobre aquela mulher.
O monólogo encenado pela atriz e produtora Marília Medina (participou do humorístico Pé na Cova, da TV Globo) é dirigido pelo também ator Bruno Garcia (seu último papel foi como Aristides em Nada Será como Antes, da TV Globo). A montagem comemora 10 anos nos palcos, com passagens por festivais de teatro e diversos cidades brasileiras. “Somos amigos há muito tempo, e foi ela quem me apresentou o texto do Roberto Athayde (escrito em 1973). A princípio montamos uma cena para um projeto do Michel Melamed, mas percebemos o grande potencial do espetáculo”, explica Garcia.
A temporada de Apareceu a Margarida na Caixa Cultural São Paulo reflete, na opinião do diretor, a maturidade desta parceria. “A Marília é uma excelente atriz e a trajetória longa da peça contribuiu bastante para que ela tivesse domínio total da personagem. Ela é surpreendente e muito segura, especialmente porque a peça nunca é a mesma”, conta Bruno Garcia, que optou por uma montagem mais realista. “Muitos homens interpretaram a Dona Margarida, mas eu gosto da versão original e acho que é uma peça que funciona bastante em teatros com palco semi-arena, que têm atmosfera da sala de aula. Montamos no palco italiano e também deu certo”, comemora o diretor.
Dona Margarida parece imperativa. Escreve seu nome no quadro para que fique na memória dos alunos. Por trás de sua figura aparentemente ameaçadora, existem camadas a serem descobertas pela plateia. “Ela é uma personagem incrível, não gosto de julgá-la. Acho que Dona Margarida tem a lucidez de enxergar o que muitos não veem. As contradições dela são evidentes. A riqueza desse humor tragicômico é a sensibilidade com o qual se tratam questões como o autoritarismo dela”, revela Marília Medina, que assina a produção da peça.
A peça
Apareceu a Margarida foi escrita pelo dramaturgo Roberto Athayde. Um dos maiores sucessos do teatro brasileiro, contou com mais de 300 encenações em 30 diferentes países (o monólogo já teve intérpretes como a norte-americana Estelle Parsons e a francesa Annie Girardot). A primeira versão para os palcos foi protagonizada há 40 anos por Marília Pêra, com direção de Aderbal Freire Filho. Ao mesmo tempo em que a estreia fez um sucesso imenso de público e crítica, a peça teve problemas com os militares e a censura fechou o teatro.
“Acho que é um texto que nunca perde a atualidade, que nunca fica datado. Foi o que percebemos em 2007, e é o que percebemos agora. Ele foi montado na época da ditadura e ainda serve para refletirmos sobre relações de poder”, revela Garcia. Marília completa que justamente por trabalhar com metáforas, a obra provoca leituras abertas. “Encenamos o texto de uma maneira bem naturalista. Dona Margarida provoca os alunos quando sugere a passividade de alguns. São também reflexões sobre agir dentro dos padrões e pensar fora da caixa”, pontua a atriz.
Bruno Garcia
Bruno Garcia nasceu no Recife, em novembro de 1970. Como ator encenou as peças Hamlet, O Burguês Ridículo, Polaróides Explícitas, entre outras. Dirigiu Que merda é Essa, Menon e, mais recentemente, O Livro de Tatiana. Artista versátil, ele é bastante conhecido por papéis no cinema e na televisão. Entre seus trabalho destacam-se os seriados A Grande Família, A Diarista e Sexo Frágil, as novelas Felicidade, Coração de Estudante, Kubanacan e Bang Bang, as minisséries Os Maias, Louco por Elas e Nada Será como Antes (todas pela TV Globo). No cinema atuou em O Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro, Saneamento Básico, De pernas pro Ar 3, entre outros.
Marília Medina
Carioca, a atriz e produtora iniciou sua carreira na década de 80. Atuou e produziu a peça Lavanderia Brasil. No cinema participou dos longas-metragens Mulheres do Brasil e Verdades e Mentiras sobre o Sexo, além do curta-metragem Sildenafil, de Clóvis Melo, que lhe rendeu o premio de melhor atriz no Festival de Toronto. Na televisão, a atriz esteve nos seriados A Diarista e Brava Gente, nas novelas Força de um Desejo e Coração de Estudante, produções da TV Globo. Marília produziu a versão brasileira de espetáculos como Haispray e Os Produtores.
Na imprensa
“Hilariante metáfora do poder...”
“Marília Medina exibe um trabalho impecável” – Lionel Fischer – Tribuna da Imprensa
“Aula em que se ri do poder”
“O Humor, parte indissociável do texto, é acentuado na direção de Bruno Garcia – Macksen Luiz – Jornal do Brasil
“Marília Medina, magnífica” – Ida Vicenzia – Jornal do Brasil
Ficha Técnica
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Autor
Roberto Athayde
Direção
Bruno Garcia
Elenco
Marília Medina
Direção de Movimento
Duda Maia
Direção Musical
Maurício Barros e Zé Luiz Rinaldi
Iluminação
Aurélio de Simoni
Cenário
Denis Netto
Figurino
Ticiana Passos
Direção de Produção
Luiz Prado
Assessoria de imprensa
Fernanda Teixeira – ArtePlural
Realização
ADS+ Produções e LP Arte Soluções Culturais
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Temporada​
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Caixa Cultural São Paulo
06 a 16 Abril 2017
Teatro Jaraguá - SP
02 Junho a 23 Julho 2017
Teatro Eva Herz - SP
03 Outubro a 05 Dezembro 2019