MINISTÉRIO DA CULTURA, PREFEITURA DE SÃO LUIS, LP ARTE E INSTITUTO CULTURAL VALE apresentam
O MONUMENTO
BAOBÁ: Origens diaspóricas
Artista: Tassila Custodes
Ori Baobá" em yorubá significa "cabeça de baobá". “Os velhos baobás africanos, de troncos enormes, suscitam a impressão de testemunhas dos tempos imemoriais. Os mitos e o pensamento mágico-religioso yorubá têm na simbologia da árvore um de seus temas recorrentes. É a morada do espírito mais antigo da Terra, a memória ancestral”. No trabalho, a imagem do baobá assume a forma de uma cabeça pela representação da máscara ngady a mwash, da etnia Kuba (República Democrática do Congo). As máscaras africanas, feitas numa ritualistica, possuem um espírito. Num formato híbrido, onde ele é madeira, máscara, árvore e espírito, a obra da ênfase a tradição yorubá que ensina que no “baobá está o espírito mais antigo da terra - o espírito que tem memória de tudo e cabeça para tudo.”
Técnica: Pintura em acrílico
Assistente: Dumá
Tassila Custodes (1999, São Luís, Maranhão) também é conhecida pelo nome ioruba Emi Ajé Dudu, que significa "o sopro do espírito preto", relacionando-se com a ideia de andança, de uma força que se transmuta pelas ruas. Por meio da pintura, do lambe e de colagens digitais, a artista conecta expressões estéticas com ancestralidade e território. A partir das conexões com tradições de matrizes africanas, e com seus ancestrais ligados ao Terecô do Maranhão — também conhecido como Tambor da mata, religião afro-brasileira da região de Codó —, suas criações lidam com arquétipos e processos espirituais presentes nos terreiros. Participou das exposições coletivas Um Defeito de Cor, 2022 (Museu de Arte do Rio de Janeiro - MAR, Rio de Janeiro); PREAMAR, 2022 (Chão, Lima Galeria, Casa do Sereio, São Luís); Afrofuturismo: Las Caras Lindas de mi gente Negra, 2022 (Centro Cívico Cultural Domenicano, Nova York), X Mostra de Performance da Escola de Belas Artes da UFBA, 2021 (evento virtual) e do Festival M.U.R.A.L, 2019 (Museu Murillo La Greca, Recife).
Territorialidade: pertencimento ao lugar
Artista: Marcos Ferreira
A instalação apresenta um formato inspirado nas guias ou “fios de contas”, não apenas como símbolo de religiosidade, mas como um elemento presente em vários contextos de poder e da estética africana trazida para o Maranhão. O trabalho ressignifica os adornos, importantes formas de resistência para afirmação diaspórica a partir do conceito de escala. Apesar do tráfico ter retirado as populações de seus territórios, numa tentativa de destituir o sujeito de si (de seus pertences, identidade, nome), a reinvenção dos adornos a partir das referências ancestrais mostra que as relações com a territorialidade africana nunca se findaram. Busca, ao contrário, ter formas de se manter no tempo, por meio do sincretismo, da memória material e imaterial. A instalação é confeccionada com esferas de concreto e acabamento com pintura acrílica em tons de dourado e marrom, remetendo às cerâmicas dos territórios quilombolas, outra riqueza que se aprofunda na diáspora. Na composição, as esferas de distintas proporções são apresentadas em linhas assimétricas na parte frontal do painel.
Escultura: Concreto, cabo de aço e pintura acrílica.
Equipe de assistência: João Vinícius, Tayná Leite, Juliane Vaceles, Maria das Dores e Maria Helena.
Marcos Ferreira (São Luís, 1988) é artista visual, stylist, cenógrafo e criador da marca Desalinho, empresa de moda maranhense. Desenvolve trabalhos há mais de uma década na área, recebendo três premiações no Salão de Artes Visuais de São Luís. Em sua pesquisa visual, produz uma investigação sobre escultura a partir de crochê, material têxtil e resíduos de confecção. Sua instalação Desalinho (2015) realizou itinerância por um circuito de capitais da Amazônia Legal pelo Sesc. Seu trabalho perpassa desenho, pintura, criação de máscaras e produção de objetos têxteis usados como dispositivos de performance.
Tecnologias africanas:
construção do Maranhão
Artista: Gê Viana
Tecnologias ancestrais: rezas e benzimentos é um processo de colagem e pintura que parte de uma pesquisa sobre um acervo iconográfico de pintores franceses exposto numa publicação do Museu do Novo Mundo. Numa prática de ruptura radical com os modos de discursos racistas presentes na história da arte, imaginando a resistência pelo aquilombamento, a obra traz como tecnologias as experiências de cura pelo benzimento, pelas rezas e ervas. O conhecimento das parteiras, pajoas, doutores do mato, nutrição de forças através de cosmologias ancestrais. Os cofos de palha trazem desenhos de curral de pesca, característicos do Maranhão e do Ceará, tecnologia pensada a partir dos movimentos das marés. As práticas de cura, benzimento, defumação e a confecção de objetos utilitários, tais como potes, alguidares e cestarias, também são presentes, demonstrando como o conhecimento nas mãos negras e indígenas são centrais na construção do país.
Assistentes: Kaká Farias e Mônica Durans (Negônica)
Ge Viana (Santa Luzia do Tidi, 1986) Graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão, cria num trânsito entre o quintal de casa e as ruas. Suas práticas de colagem digital e manual e inserção da pintura, partem de pesquisas com imagens de arquivos e a memória oral de sua família, num confronto entre a cultura colonizadora hegemônica e seus sistemas de arte e comunicação. Pensa num modo de criar com a história de seu povo Anapuru o cotidiano Afro-diaspórico e Indígena do território maranhense para trazer outras narrativas que trabalhem possibilidades mais felizes e dignas, pois, no contexto colonial, a felicidade sempre esteve em risco.
Matrizes africanas: religiosidades
Artista: Jesus Santos
A gira dos terreiros de matriz africana é representada pelo artista Jesus Santos como três conjuntos de imagens ou cenas, inspirada no culto aos voduns na Casa das Minas Jeje e a Casa de Nagô, ambas fundadas por africanas no século XIX. A azulejaria, técnica de origem egípcia levara para a Península Ibérica pelos árabes, largamente utilizada nas fachadas de São Luís, traduz os momentos de culto e a incorporação dos encantados, bem como referências materiais dos terreiros, como a placa da Casa das Minas, o Querebentã de Zomadonu.
Técnica: Mosaico.
Execução do projeto: Estúdio Cena
Assistentes: Diones Caldas, Renan José, Vanessa Serejo, Monique Vitória. Produção: Fabio Pereira.
Jesus Santos (São Luís, 1950) estudou na Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro. Em seu processo de formação, aprimorou técnicas com os artistas Antônio Almeida, Maia Ramos e Newton Pavão, desenvolvendo uma vasta produção em pintura e mosaico, notadamente em monumentos públicos de São Luís. Realizou exposições individuais nacionais e internacionais: 1º Salão Nordeste na 2ª Bienal da Bahia (1971); Salão Brasileiro de Arte Fantástica (1979); Três Artistas do Maranhão, em Nova Iorque (2003), com itinerância em Brasília e São Paulo.
Intelectualidades Negras
Artista: Telma Lopes
A obra retrata a maranhense Maria Firmina dos Reis (1822-1917), escritora negra nascida no século XIX, em São Luís, como uma joia, no interior de um camafeu. Camadas diversas de ornatos de crochê e bordado livre destacam-se num fundo multicolorido de tecidos em patchwork. Educadora, musicista e criadora da primeira escola mista do país, Maria Firmina também recebia grupos de bumba-meu-boi para realizar apresentações às portas de sua casa, deixando registros de toadas de sua autoria. Autora de Úrsula, romance abolicionista publicado em 1859, Maria Firmina aparece de forma monumental nas manufaturas e processo artesanal de Telma Lopes, cuja habilidade e detalhismo refletem à complexidade dos fazeres manuais na arte negra, como um bordado de couros de bumba-meu-boi.
Técnica: Bordado livre, crochê e patchwork.
Assistência artística: Tayná Leite, Glauber Pinto, João Almeida, Painel Culinária, Thiago Fonseca
Telma Lopes nasceu no povoado Pedras, no município de Humberto de Campos. Morou em São José de Ribamar e em São Luís, onde atuou no Laborarte, Laboratório de Expressões artística. Desenvolve trabalhos com arte urbana, graffite, escultura, cerâmica, xilogravura, construção de cenários e pintura. No Rio de Janeiro, estudou na Associação Brasileira Bella Artes, trabalhando por mais de 20 anos na Fábrica de Cenários da Rede Globo. Retornou à capital maranhense em 2017. Realizou exposições individuais na Galeria de Arte do Sesc (2018) e no espaço Chão (2022). XVII Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, em Portugal (1994).
Arte e cultura: expressões,
memórias e heranças
Artista: Inke
Na diáspora, a arte, a cultura, a música, a ginga e a dança, são elementos que ressaltam a diversidade e riqueza do patrimônio africano. No Graffiti, a imagem de uma preta, coreira de tambor de crioula em posição central, com os florais do chitão das saia reluzindo em sua pele, representa, pela cabeça, a memória, estratégia para vencer o apagamento. A capoeira, a parelha do tambor de crioula, a coreira que gira criando fluxos, memórias que se expandem pelo movimento, como ondas do Atlântico desde a costa africana. O maracá, símbolo comum aos vários grupos de bumba-meu-boi, aos diversos sotaques e variantes, elemento que representa a autoridade do cantador, destaca-se no topo chamando todos para reunida para festejar.
Tecnica: Graffiti
Artista de Graffiti há 20 anos, membro do Coletivo de artista de Graffiti Efeito Colateral Crew, Designer gráfico pela Universidade Federal do Maranhão e 3D Artist Lead no estúdio de games Famous For Nothing.
Intervenções e eventos: Liberdade Para Pintar, Maranhão (2023), Cores da Vila, Maranhão (2019), Sur-fest, Bogotá/Colômbia (2018), 8º RECIFUSION, Pernambuco/Brasil (2018), UPFEST, Bristol/Reino Unido (2017), Meeting of Styles México, México (2014), Festival Concreto, Ceará/Brasil (2013).
Culinária: afeto e empoderamento
Artista: Dinho Araujo
A feitura da comida e o ato de comer figuram sobre um fundo dourado na pintura inspirada na concisão das linhas originárias de Tadrart Acacus, na Libia, Norte da África. Numa área delineada pelas curvas laterais como um pátio ou terreiro, mulheres tratam quiabos, pimentas, representando elementos diaspóricos na comida maranhense. O dendê, o hábito de comer com a mão, as comidas de santo e os ebós evidenciam a presença viva dos africanos no Brasil, o alimento como princípio básico de conexão com o sagrado e o mundo espiritual. O babaçual, dendezeiro e o boi retratam relações ancestrais com a terra, as práticas sustentáveis de subsistência, das quebradeiras de coco à produção do azeite e o pastejo. Em Yorubá, ajeum é a junção das palavras awa (nós) e jeum ou jé (comer), comer juntos. No Ilê, a partilha do alimento, a oferta de comida para os voduns e orixás é uma parte da celebração e também o próprio processo produtivo da vida, pelo axé, o que nos mantém vivos.
Técnica: Pintura em acrílico
Assistência artística: Thiago Fonseca
Dinho Araujo (Pinheirou, 1985) Artista visual, Mestre em Antropologia (UFPB), gestor cultural do Chão, pesquisador junto ao IPHAN no Inventário Nacional de Referências Culturais do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi (2007). Circulação nacional com a cena expandida “Performance Preta no Brasil”, com Elton Panamby, pelo Palco Giratório em 2019. Artista indicado ao Prêmio Pipa 2021. Seu trabalho foi incorporado à Coleção Banco do Nordeste Cultural, em 2022. Curador da exposição individual Caminho de Muriá para brocar a terra, 2021, da artista Gê Viana, no Museu Histórico e Artístico do Maranhão – MHAM e do projeto Sesc Confluências, no Maranhão, em colaboração com o curador Ricardo Rezende, entre 2018 e 2019.
Participou das exposições coletivas “Um defeito de cor”, no Museu de Arte do Rio, Preamar - SP Art Rotas Brasileiras; "Mascara, Maré Montanha" (curadoria de Mateus Nunes), na Lima Galeria, e da residência Lab Suav, programa formativo realizada no espaço Chão em parceria com a Galeria Asfalto, do Rio de Janeiro.
(Re)Existências: historicidade e militância
Artista: Origes
A geometria do trabalho de Origes, em sua variada figuração das caretas de cazumba e outros elementos da cultura preta no Maranhão, assume no painel a narrativa histórica de Negro Cosme (Cosme Bento das Chagas), na revolta da Balaiada (1838-1841), levante protagonizado pela população negra e pobre em busca de melhores condições de vida no Maranhão. Abordando o tema, (re)existências o artista busca em seu trabalho incentivar, através do graffiti, jovens negros e periféricos a contarem a sua própria história.
Técnica: Graffiti
Assistência artística: Carlos Over
Origes é grafiteiro e artista visual, nascido no bairro da Alemanha em São Luís, Maranhão. Inicia sua produção em 2009, com intervenções urbanas, pinturas, tatuagem e criação da sua marca Origestyyle, em 2018. O artista resgata uma das figuras mais emblemáticas e simbólicas da cultura popular maranhense, o Cazumbá, desenvolvendo assim o que hoje marca a sua identidade artística.
Projetos e intervenções - "O GRITO" (Prêmio Funarte Murais do Centenário da Semana de Arte Moderna), mural com cerca de 300 metros homenageando Marielle Franco, George Floyd e João Pedro, vítimas do racismo e violência policial.
Patrocínio
Produção
Realização